13º Prêmio New Holland de Fotojornalismo tem palestra e oficina sobre fotografias para pessoas com deficiência
João Maia é fotógrafo cego e Valdir Gonçalves é o fotógrafo cadeirante
Fotografia e Inclusão e Fotografia Cega são dois projetos que tem como objetivo proporcionar acessibilidade para pessoas com deficiência por meio de imagens. João Maia e Valdir Gonçalves são fotógrafos que ministram palestras e oficinas de fotografia. Crédito: Gabriel Felipe Fonseca.
Descrição de imagem: Foto 5. Vertical. Na imagem está os dois fotógrafos. João em pé, com tampa da cabeça cortada e com a mão esquerda no ombro do Valdir. A mão direita segura a bengala aberta tocando o chão. Veste blusa de lã amarela com a frase em braille e em português Fotografia cega. Sua calça é de cor bege. Usa tênis de cor amarelo e cordões alaranjados. Valdir está sentado em sua cadeira de roda, vestindo calça jeans azul escuro, jaqueta caqui com o zíper meio aberto. Ele usa óculos, é careca. Seus pés estão cortados na imagem. Sua mão direita abraça a cintura de João, e a esquerda está apoiada na perna direita. Colaboração: Taís Maria Ferreira.
Na tarde de sexta-feira, 07 de junho de 2019, foi realizado na Biblioteca Pública de Curitiba duas palestras, “Fotografia Cega”, ministrada por João Maia e “Fotografia e Inclusão”, realizada por Valdir Gonçalves. Os palestrantes no sábado, 08 de junho de 2019 promoveram oficina com atividades práticas e orientações sobre fotografias acessíveis. João Batista Maia da Silva nasceu na cidade de Bom Jesus (PI), ficou deficiente visual aos 28 anos. Na atualidade, só enxerga vultos e percebe cores. Maia foi o único fotógrafo cego que cobriu as Paraolimpíadas que foram realizadas no Brasil em 2016, na cidade do Rio de Janeiro. Valdir Gonçalves nasceu no estado de São Paulo, começou a fotografar no final da década de 1980, ficou cadeirante em 2000, e na atualidade, promove a inclusão por meio das técnicas de fotografia para as pessoas com deficiência, por meio de adaptação das fotos para o alto relevo com os pontos feitos com alfinete para a percepção das imagens com o tato e com o QR CODE (leitor de códigos para dispositivos móveis) como ferramenta para converter textos impressos para o celular através de audiodescrição.
Técnicas de fotografia e adaptação de materiais
Nos sistemas operacionais IOS e Android, quando os recursos de acessibilidade para pessoas cegas estão ativados no celular, é possível enquanto o deficiente visual fotografa escutar descrições de imagens que indicam a quantidade de pessoas que estão na imagem e o direcionamento da fotografia de forma vertical ou horizontal. Crédito: Gabriel Felipe Fonseca.
Descrição de imagem: Foto 01. Vertical, corpo inteiro, é o Valdir fotógrafo cadeirante. Ele está em sua cadeira de rodas, vestindo calça jeans azul escuro, sapatenis preto, jaqueta caqui com o zíper meio aberto. Ele usa óculos, é careca, seu braço direito está abaixado com a mão apoiada sobre sua perna direita. E seu braço esquerdo está levantado e a mão na altura do rosto. Ele está com a cabeça levemente levantada e olha para frente. Ao fundo uma parede branca. Colaboração: Taís Maria Ferreira.
João Maia utiliza o celular e a câmera fotográfica para fazer imagens. O fotógrafo cego realiza fotos na câmera fotográfica quando as pessoas o auxiliam para ativar o obturador. No celular, os recursos para fazer imagens estão disponíveis para IOS e Android e são acessíveis com os leitores de tela Voiceover, da Apple e o Talkback, da Google. Para o site “Acessibilidade PG”, Maia dá dicas para as pessoas com deficiência visual fotografar. “Você que é pessoa com deficiência, se aproxime do objeto ou da pessoa a ser fotografada, você tem que saber a altura no caso de uma pessoa que você vai fazer um retrato. Então se aproxime, peça licença, toque nessa pessoa, porque você precisa acima de tudo se aproximar para se distanciar, porque quando você se aproxima, você faz a primeira foto com um passo de distância e aí vou saber se eu cortei ou não. Então, posso fazer com dois passos de distância, e aí eu vou ter diferentes tipos de imagens, um retrato ou um plano americano.”, esclarece. O fotógrafo cego explica que o plano americano é da cintura para sima e ao colocar três ou quatro passos, será feito uma foto de corpo inteiro, e para ter a noção espacial, as pessoas cegas precisam se aproximar e depois se afastar para saber o enquadramento da imagem. Outras técnicas que ele utiliza são fotografar e gravar vídeo com o Voiceover aberto e também é possível fazer imagens com o leitor de tela desativado, por meio do botão de volume.
Para tornar as fotos acessíveis para pessoas cegas, Valdir Gonçalves utiliza várias técnicas, entre elas, está a audiodescrição com a conversão das informações de textos impressos para o celular pelo QR Code. “A audiodescrição tem uma técnica básica que é de você descrever literalmente aquilo que está sendo visto, mas com informações de maneira um pouco mais genéricas para que as pessoas possam ter acesso a essa informação, que não precisam ser informações extremamente detalhadas, mas com informações que possam dar entendimento suficiente a pessoa cega. Eu costumo colocar que toda pessoa é um audiodescritor em potencial, portanto, não existe uma técnica que eu adote específica para isso, tanto que eu faço descrição das minhas imagens.”, explica Valdir Gonçalves. Ele descreve as cores das fotos, a posição dos elementos e sobre o foco da câmera.
Cobertura das Paraolimpíadas
João Maia foi o primeiro fotógrafo cego que registrou as competições realizadas nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Sobre a participação no evento, ele comenta. “Cobrir as Paraolimpíadas foi uma história emocionante, fui representar cada um dos deficientes espalhados pelo Brasil inteiro e tenho antes de tudo, a responsabilidade de representar com profissionalismo, com muito orgulho a comunidade cega do Brasil, então, eu me senti muito feliz e ao mesmo tempo, com muita responsabilidade por estar sendo o único deficiente visual no Brasil a cobrir uma Paraolimpíada, e até mesmo, no mundo, então feliz, mas ao mesmo tempo com muita responsabilidade para elevar a autoestima das pessoas com deficiência, porque a gente sabe que é um pouco invisível, mas a gente quer estar aí nas ruas ocupando os espaços públicos, ocupando as vagas que são destinadas pela Lei de Cotas, porque nós somos competentes, nós só precisamos de oportunidades para demonstrar nossas capacidades de realizar algo que nos impulsiona como profissional.”, relata. Para 2020, João pretende cobrir as Paraolimpíadas de Tóquio, no Japão. Ele espera que no ano que vem, as demais pessoas com deficiência realizem a cobertura das competições.
Inclusão de deficientes na fotografia
Os dois fotógrafos realizam fotos de paisagens, do cotidiano das cidades, competições esportivas e de pontos turísticos brasileiros. Crédito: Gabriel Felipe Fonseca
Descrição de imagem: Foto 4. Vertical. Fotógrafo João está no centro da foto, em pé, de corpo inteiro. Ele veste blusa de lã amarela com a frase em braille em português Fotografia cega. Sua calça é de cor bege. Usa tênis de cor amarelo e cordões alaranjados. Na sua mão direita segura sua bengala e sua mão esquerda está apoiada em sua cintura. Ao fundo tem uma porta. Na parede está escrito Ciências sociais aplicadas, Belas Artes e Esportes. Colaboração: Taís Maria Ferreira.
O fotógrafo cadeirante esclarece a importância dos conteúdos de mídia apresentarem acessibilidade para pessoas com deficiência. “Onde não houver acessibilidade encontre novas possibilidades, porque a acessibilidade é um direito, é um dever de toda pessoa promover a acessibilidade, principalmente aos fornecedores de conteúdo. Então, é importante eu fornecer um conteúdo de qualidade, ou seja, um conteúdo que seja acessível a todas as pessoas que tem deficiência ou não.”, ressalta. O fotógrafo cego orienta as pessoas com deficiência sobre como realizar fotos de forma acessível. “Não tenha vergonha de fotografar, não tenha vergonha de se expor. Você tem que ter o direito de fazer o seu próprio registro, e não deixar que as outras pessoas façam o registro por você. Você é o protagonista da sua própria história, acredite nos seus sonhos, Sonhe! Porque aquela pessoa que sonha, ela vive e a gente precisa todo o dia que a gente acordar ter um sonho, ter um propósito, um planejamento de vida, é assim que vivemos.”, afirma.
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